domingo, fevereiro 12, 2012

Ilha

Escondes-te por entre o nevoeiro
nessa cor de cinza que tu vestes.
Apertada num rodopio extenuante,
tropeças em ti mesma.

Viras costas ao mundo,
senhora do teu nariz.
És mais que os outros; assim te vês,
mas coitada, enganas-te no saber.

Fecha-se o mar à tua volta,
que assim se prende a ingorância.
Ébria a cada hora que passa,
transpiras o nojo dos teus filhos.

Caras pálidas de bochechas bêbedas,
correm ao som do relógio,
engravatados e engraxados,
vestidos no cinismo de um obrigado.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Saudade

Ah, finalmente...
Que saudades já eu tinha
do ardor deste povo,
do som do seu falar
e do calor que me recebe.

Sim, é a saudade que me consome!
O sabor do café
numa esplanada ao luar.
O bebericar de uma cerveja
e o fado que se entoa ao redor.

A saudade do riso que não se esvai,
que destoa as rugas de quem sofre.
As lágrimas dos teus olhos
amenizam o fervor do meu peito.

A saudade que se sente
de quem de fora só te sonha.

Amo-te meu povo, minha terra...
Amo-te...

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Adeus, Portugal!

Adeus à minha casa, à minha amada Pátria!
Perante ti, deponho as minhas armas derrotado,
E vencido e espezinhado pela minha idolatria
Ajoelho-me, tremente, injuriado e mal tratado.

Vejo-me partir, desleixado e ressentido,
Como quem vai sem um beijo de despedida.
Sem um último adeus, quente e de lágrimas escorridas,
A mágoa no lugar de um abraço apertado.

A culpa não te pertence, como assim faço crer,
Mas aos que te conduzem pelo atalho do descalabro.
Destruíram o meu lar, as terras do meu ser,
Fazendo de Portugal um pobre palco de teatro.

Abandono o que me criou e viu crescer,
Deixo para trás os campos férteis da minha imaginação,
Desprezo o que me viu chorar e ganhar o gosto por viver,
E desdenho as gentes que guardei no coração.

Adeus à minha Pátria, ao meu Portugal!

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Eva

Esta noite dormiremos juntos, meu amor,
e aconchegados, chorarás peripécias sofridas.
Vou mimar-te histórias ao ouvido
e sussurrar-te maravilhas do mundo.
.
Vais rir, como sempre ris,
nesse riso que me conquista.
Vou embalar-te em sonhos infantis,
enquanto palreias, quase adormecida.
.
Nada tenho para te oferecer
e pouco mais terás a descobrir.
Crescerás como criança rebelde,
a quem estenderei sempre a mão.
.
Meu anjo, meu amor,
tenho o Mundo nos meus braços,
quando te abraço,
durante a noite que passa.

Sonhador

Valho pelo que sei melhor fazer:
Sonhar.
Sonho ainda como um menino
na descoberta infantil dos sentidos.
.
Se a ti a lua já não te fala,
a mim aconchega-me ainda os lençóis.
Se o sol já não te acorda com amor,
a mim beija-me ao despertar.
.
Vou por ruas podres de cimento
e os pássaros cantam-me à passagem.
Cães e gatos fazem tréguas ao ver-me
porque os trato como iguais.
.
Mas sonho mais, mais ainda,
com o mundo e com a paz.
Como ingénuo, sonho isso e e muito mais.
Não fosse o Homem pesadelo,
seria eu, feliz criança sonhadora.
.
Sou rapaz de imaginação por demais,
mas escrevo ciente da minha condição:
A descrição de devaneios da realidade;
mitos e estórias de enganar.
.
Devem chamar-me pelo que sou:
Sonhador.

quinta-feira, junho 10, 2010

Sempre

Sempre o mesmo sentimento de perda,
apertado e envolvido pelo de vazio,
todos os anos, no mesmo dia,
e até, no mesmo sítio...


No mesmo lugar em que sempre me revejo,

ano após ano, a saras feridas cansadas.
Fecho os olhos e vejo de cor
a agonia dos sentidos, que ali deixei escondidos.


Para o ano voltarei, certo na tristeza,
que a todos sempre assim é, dê por onde der!
Volto-te as costas, que por hoje já me chegas,
que por hoje estou destroçado...


Saio, acabrunhado, escondido pela noite,
na procura do que não sei.
Repuxo as peles e embrulho-me tremente,
perdido sei lá onde, sei lá eu porquê...

quarta-feira, maio 26, 2010

Tempo ido

Que saudades tenho de me sentir!
Da despreocupação, da insensibilidade sentida,
da falsa liberdade a que me confinava ingénuo.

Estou agarrado a um passado longínquo,
mas que procuro viver amiúde no presente.
Deixem-me criança!
Viver continuamente a vida que me fugiu.
Deixem-me ser...

Agarro-me a textos poeirentos,
perdidos no fundo da gaveta.
Releio pensamentos de outrora,
que o tempo roubou e deturpou.

Ligo as músicas das minhas rebelias
e choro, em choro míudo, quase inaudível,
como que envergonhado por ter perdido a minha alma.

Resto-me só, se a mim me contar...
A música da minha vida acabou
e, sem coragem, peço que me apaguem as luzes.

quinta-feira, maio 06, 2010

Memórias

A vida percorre-nos, irónica,
os dias inóspitos de sentimentos.
Cada um que passa, acaba como começou,
dando espaço a um outro, igual a tantos mais.


As horas, desses dias, vagueiam no meu relógio,
perdidas no seu caminho, empatam-se e atrasam-se.
Não têm destino para se nortearem
ou sequer asilo, onde possam pernoitar.


Mergulho da solidão, desesperante, do meu ser
e abraço-me às ondas incessantes de apatia.
Permito ao tempo que se estenda vagaroso,
enquanto folheio as memórias de outros tempos.


Lembro-me de ti, criança cruel,
de olhar fugidio e sorriso malicioso,
na procura, incansável, da próxima maldade.


Como me rio por te ver, nos olhos de agora.
As corridas loucas que fazias,
as brincadeiras que descobrias e inventavas
e os dias terminados em choro e sangue seco.


A graça que tinhas, nos teus anos primaveris,
de caracóis negros, que tão sagrados eram,
todo emproado, sempre certo de ti.


Que é feito de ti, meu anjo?,
dessa doçura e alegria contagiante?
Os teu olhos mentem, inchados pela tristeza,
e devolvem-me ao presente, de olhar fixo no meu reflexo.

domingo, novembro 29, 2009

Enke


Enke...


O ídolo vivo remanescente, até dia 10 de Novembro deste ano. Se Nietzsche disse para matarmos os nossos ídolos, embora eu não tenha causado a de nenhum, da minha parte a afirmação está concretizada.

Era um mero jogador, que desempenhava bem o seu papel, simples obrigação tendo em conta o seu ordenado, é o que muitos podem opinar e que eu não posso contrapor. Mas para mim, do que eu conhecia, era um modelo como jogador e pessoa. Se o futebol fosse o futuro por onde tivesse enveredado, a capacidade técnica, a atitude e a maneira de estar e ser do Enke seria, certamente, o que me proporia a atingir.

Ainda hoje sou apelidado por Enke, e agora após esta morte, que me entristece seriamente, mais força ganha a dita alcunha.

Já tenho comigo um belíssimo quadro com vários fotos do Enke, acompanhadas de uma pequena biografia, o qual tenho a agradecer à Adriana pela generosidade, carinho e grande conhecimento que detém da minha pessoa e sentimentos que possuo.


Continuarei a gritar pelo teu nome, Enke, a cada defesa difícil que faça. A ti, Enke, dedicarei cada saída mais exímia que faça e acima de tudo, farei com que o teu nome não se desvaneça no tempo, quer dentro como fora do campo. A Deus, Enke...

domingo, agosto 30, 2009

Amo-te...

… porque as sardinhas são do rio;
… porque não sabes de que árvore vem o milho;
… porque não bebes shot’s há 364 dias;
… porque queres uma ménage à Kant;
… porque os golfinhos não existem no mar;
… porque o Daniel nunca mais te apanha com essas!!;
… porque se fosses rico eras obeso;
… porque assustaste as velhotas na estação e foste castigado;
… porque ladras como um caniche;
… porque usas cabedal em pleno Agosto;
… porque o Hélder agradece aos céus sempre que abres a boca;
… porque tens o dom de me fazer passar vergonha em todo o lado;
… porque és forreta e queres comprar cerveja continente;
… porque fazes cheesecake para os meus anos;
… porque dás beijinho pica-pau;
… porque faz hoje 2 anos que me surpreendi positivamente contigo…


AMO-TE… porque me fazes rir e um dia contigo nunca é enfadonho!




Adriana
26 de Agosto de 2009

segunda-feira, julho 27, 2009

A menina dos sonhos

Trazes um vestido
que roça o chão e te esconde os pés.
Folheado e de marfim,
abraça-te o corpo num aperto exagerado.

Os teus cabelos russos, de brilho exuberante,
acariciam-te a face mimando-te com beijos.
Nem curtos nem compridos,
deixam-se descansar nos teus ombros.

Passas por mim de olhar desviado,
como que fitando a foz das águas murmurantes,
que te levam em pensamentos longínquos,
de quem não está de onde se vê.

Miro-te, apaixonado, sobre a ponte rústica
que te mantém firme nesse lugar.
Debruças-te, aspirando o cheiro dos teus sonhos,
enquanto brincas, alheia, nuns passos de dança das tuas mãos.

Dias que passas assim, tal como estás,
comigo aqui assim, tal como estou.
Magicas mundos de fantasia reais,
que só tu vês,
que eu tão bem sinto.

Choras, impassível, a tua vida
e soluças, angustiada, os teus sonhos.
Deixas-te enganar pelos reflexos que te alimentam,
mas que já não te saciam.

Vejo, daqui, que a dança mudou
com passos tremidos e inseguros.
Enches o peito, numa golfada fria de coragem,
elevas o olhar ao horizonte dos teus sonhos
e decides-te, num impulso, em alcançá-los.

Quero-te chamar
e sonhar a teu lado.

quarta-feira, junho 10, 2009

Salva-me

Vejo-me na necessidade de te falar.
Não tenho nada de novo a acrescentar,
nada alegre para nos entreter
e, contudo, nada triste para chorar.

Sinto, apenas, que quero falar!
Do que se é e do que se era.
Mas falar?
Falar é pouco!
Antes quero gritar!

E porque sei que posso gritar,
então eu grito!
Grito o que quiser, o quanto me apetecer!
Do que se é e do que se era.

As mesmas linhas!
Os mesmos traços de tinta!
O mesmo cheiro, até!
Mas a voz falha-me, enrouquece...

Sussorro-te ao ouvido,
numa esperança desesperada,
baixinho num sopro,
salva-me...

Digo-te, embargado na voz,
tudo o que já ouviste e cansas-te.

Peço-te em soluços de apatia e melancolia,
salva-me...

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Num dia

Um dia acordas,
imaginaste o rei do mundo
e crês, fielmente, nessa virtude.

Noutro acordas,
mero vagabundo,
que pede esmola a cada porta.

Um dia corres
por terras tuas, aclamado.
Outro dia, espezinhado,
na calçada de todos, menos tua.

Ora dormes, com requinte,
na seda dos lençóis,
ora gelas no fedor
da cultura de jornais velhos.

Tanto a um como a outro,
é o mesmo, mesmo que no mesmo dia.
A visualização que eu queria deste poema não me é permitida no blog. Portanto fica assim corrido.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Término?

Emborgo mais uma cerveja
e apetece-me outra, de seguida.
Se a tal não posso,
que os bolsos estão vagos,
resta-me o hálito de malte, que expiro.

Acendo mais um cigarro,
que estes ainda vou tendo.
Como a existência de posses
determina a vida que se leva!

Querer e não poder!
Não quero ser rico,
de mansões cheias, pelas ruas!
Quero poder sem entristecer!

Como me custa hoje,
tal como ontem e outros dias!
Quando nada corre de feição,
nada mesmo corre diferente!

Escrevo no desalento de me refugiar,
que, isso sim, não pago ao estado.
Preso a este vício de rascunhar,
que como em outros nada ganho.

Que mentira esta!
Embalado na escrita de linhas vazias,
culpo o que me alimenta!
Certo que pão não o trás,
mas sossego... que sossego!

Antes que mude a ideia,
que esta não pára,
deixo em branco, tudo o resto,
a quem a seguir há-de vir,
em estranho vício, terminar...

sexta-feira, outubro 24, 2008

Sonho de menino

Era um sonho de menino:
escrever e nada mais.
Sim, era apenas isso.
A sua vida desenhada
em grotescos arabescos...

Viveria pobre, se de ouro falamos,
que a mais não aspirava.
A sua riqueza penderia
dos frescos riscos de carvão.

Seria rico; um rei!
Desses reis a sério, com a coroa bem alta!
O mundo seria seu, conquistado a papel!

Não quer brinquedos, nem boneco felpudo!
O seu castelo é o caderno rabiscado,
defendido a ferro e fogo e demais artimanhas!

Já crescido, meu menino,
que tragas aí contigo,
esse sonho de petiz.





P.S. Obrigado Rute, deste azo a mais uns arabescos ;)

segunda-feira, setembro 22, 2008

Angola


Tão sonante o teu nome, Angola,
e que rica tua alma!
Tanto amor e brilho de esperança
escondidos na negrura do ser
e nas lágrimas dos olhos remelosos,
de quem não conhece paz.

Escrevo ao teu povo, terra de riqueza
na sombra d´um imbondeiro.
Símbolo da Pátria e da robustez,
que acalma os tempos ferverosos.

Solto-me, ávido por ti!
Abraço-te como irmã reencontrada,
desse mano velho a quem pertenço.
Vim para te ver crescer e andar...

Fata-te ainda tanto!
Mas está quase!
Só mais um passo...
Anda, cresce, que me perdi por ti!

Ébrio pelo teu calor, pela tua vida!
Se te crês, serás grande!,
e cá estarei para te ver sorrir... finalmente,
terra mais rica com tamanha pobreza.

Estendo-te a minha mão, assim só,
que palavras seriam demais.
No ar, a promessa de voltar...

A outra margem

Encontrei este texto nos rascunhos. Tinha-me esquecido completamente dele. Mas não do seu conteúdo. Tal texto é referente a um filme português que passou pelos cinemas lá pelo fim do ano passado. Algum de vós conhece? Pois bem, trata-se de um filme espectacular.
Sei que me encontro numa posição um tanto ou quanto parcial, visto o filme basear-se num rapaz com trissomia 21, mas que, dentro das suas capacidades, levava uma vida normal. É pois, então, documentado a alegria e amor para com os outros, fora de julgamentos sociais, principalmente para com um casal homossexual. Mais não direi; apenas quis transmitir que se trata, sem dúvida, de um dos melhores filmes tugas existentes e que, no entanto, passou ao lado das luzes da ribalta. Venham mais filmes vendíveis, então...

terça-feira, abril 29, 2008

Lisboa




Lisboa, terra de poetas vividos,
Onde mil almas perecem por amor.
Sigo o teu corpo, embevecido,
Lado a lado de mãos dadas com o Tejo.

Sento-me à tua beira refrescante,
Donde te admiro, singelo,
Nesse voltear ondulante,
Que me apela à ti, oh Tejo!

Percorro as tuas casas, cidade,
Tão velha quanto o tempo!
Imponente e majestosa,
Aos olhos de quem passa.

Amada, perduras na memória…
Impossível não sentir,
Tamanha história, beleza,
Que ocultas em ti, orgulhosa!

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Coisas...

As coisas simples atormentam-me...
Não por variadas razões,
apenas, por serem o que são...simples.

As coisas complexas complicam a tormenta...
Pouco mais que uma razão,
por serem por demais... complicadas.

Assim de primeiro olhar,
como era bom o meio termo,
sem gesto de equilíbrio ou leve bambolear.

Ao segundo era bem visto,
que se de cada um pouco rouba,
era tormenta, então, dobrada.

Que complicação esta, que se tornou,
ao falar-se de simples coisas.

Como me trespassa...
a complexidade da simplicidade.

Obrigado

Escrevo na penumbra do meu ser,
que cega a luz ensanguentada,que cai a jorros pelo meu quarto
e que vai descobrindo cada recanto escondido.

Sob esse sangue ofuscante, esmoreço,
e, então, apodera-se de mim o cansaço
e o respirar torna-se uma teimosia forçada.

Recalco pensamentos de derrota,
de quem de pronto se ofereceu,
de corpo, alma e coração prontificado,
a causas, já na sua génese, condenadas.

Eis a perda do ser, que julguei irremediável,
mas eis, também, uma ténue esperança que me devolve à vida,
surgida da luz escurecida, que se fortalece implacável.

Bem aja tais palavras, de tamanha aventurança,
"Há sempre algo por que lutar!"

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Tell all the people, we`ll be free


A vida começou aos 6 anos de idade. Encontrava-me no banco traseiro, ladeado por meus irmãos, quando vislumbrámos um acidente, do qual resultou sangue índio espalhado ao acaso pelo alcatrão. Não passava de um acidente, era só isso... Só eu senti a alma daquele ser escapulir-se do corpo em transe final e apoderar-se do meu, coadunando-se com a já existente. Tudo começou aí, estava diferente...

Anos se seguiram, debaixo de metódica educação militar. Não me rebaixei, como quem diz, não perdi a identidade própria. Continuei a ser-me e procurei a costa oeste para concretização total desse meu ser. Iniciei-me tendo terminado o curso de cinema, se bem com certo sentimento de incompreensão. Tinha o diploma mas o que de facto me importava era o bloco onde diariamente escrevia o meu pensamento e as bíblias da vida, como Nietzsche, Huxley, Blake... Sem esquecer os passeios ao longo da costa, durante um dos quais encontrei um colega de curso. Lembro-me como se fosse ontem, pois obrigou-me a cantar um dos meus escritos e logo ali se deu ínicio a uma banda que viria a ser falada por todo o mundo - The Doors (nome pedido de empréstimo, directamente, aos escritos de Blake).

Começámos em bares, onde tinha vergonha de expôr até a minha cara. Tinha só a dar os meus poemas. Mas cedo percebi que grande parte da América não estava ainda preparada. Mas conseguimos muito, não só nós, é claro, contávamos com o Hendrix e a Janis (os três jotas), entre outros. A revolução surgiu, o movimento hippie passou, eu declinei de cansaço. 6 anos bastaram... Não era amado por amar a liberdade, não era amado por amar a América, não era amado por querer ser poeta. Era amado por ser um rock star sexy. Pois então, que engorde e fique barbudo... acabou, então... Fui para a cidade de artistas, poetas e loucos - tudo o mesmo. Père Lachaise? Uma mera atracção turística, sem base de sustento. A mensagem ficou e ainda hoje se ouve, talvez com redobrada atenção e sentimento de fazer algo que no tempo beatlenesco... ou assim o espero, pois tendo em conta que daqui ninguém sai vivo e de que os velhos envelhecem e os jovens tornam-se mais fortes, ainda acredito que nos podemos juntar todos uma vez mais.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Poesia

A poesia é como que uma chave jamais ferrugenta que servirá para abrir uma porta, para muitos trancada, que dará passagem para um mundo diferente, um mundo onde o tempo pára, um mundo transcendental.
Não me importa se o público gosta dos meus escritos, se lhes aprouver odiar que assim seja, pois eles a mim são mais que simples palavras escondendo o significado em metáforas, são elas o meu ser, a escrita do meu sentir, do meu pensamento, e é isso que, verdadeiramente, importa. E é por ser eu neles espelhados, ou qualquer ideia que em mim resida, que os apelido de perfeitos, não porque esteja a ser convencido, não porque os ache a salvo de qualquer imperfeição (até porque mais que ninguém, sei onde se encontram os mais ínfimos defeitos), mas sim porque são como filhos que alimento e vejo crescer, cada um à sua maneira, é o meu pensar despojado de todas as artimanhas, preso ao papel.
E é a escrever que, realmente, me sinto bem, não só porque a liberdade inerente à poesia acaba por me soltar das amarras colocadas, saber que sou eu o criador, sou eu quem decide a forma, conteúdo, arranjo de palavra e outros mais, mas também porque é a maneira que tenho de confessar tudo sobre mim à minha própria pessoa, tendo como resposta o leve som do arranhar da caneta no papel e que, suavemente, me acalma.
Assim, deixo-vos os meus poemas, o meu legado, o que de mais importante tenho para vos dar, não com o intuito que os admirem acima de muitos outros, mas sim que entendam a mensagem neles expressa.


Tiago Alves






A poesia devolve-nos a liberdade
que aos poucos vamos perdendo…

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Riders on the Storm

Riders on the storm

Riders on the storm

Into this house we´re born

Into this world we´re thrown

Like a dog without a bone

An actor all alone

Riders on the storm


There´s a killer on the road

His brain is squirmin´ like a toad

Take a long holiday

Let your children play

If ya give this man a ride

Sweet memory will die

Killer on the road, yeah


Girl ya gotta love your man

Girl ya gotta love your man

Take him by the hand

Make him understand

The world on you depends

Our life will never end

Gotta love your man, yeah

Ou...Se...

Faz muito tempo desde a última palavra escrita no seu caderno, que utiliza para aquelas ideias que se desvanecem se não as agarrarmos à primeira oportunidade... Desde então, é-lhe díficil o deslizar do carvão conforme a sua vontade, seja lá o que isso for... e hoje não é diferente.
Simplesmente, teimou. Não para a vinda de inspiração, antes a ida do cansaço, aquele que em ínfimas parcelas se vai acumulando, sem que o ser dele tome consciência, e já instalado só então se faz anunciar. É esse o cansaço a que se faz referência. Tenta, por tudo, mostrar-se receptivo, a quem, por direito e sem ele, merece, e tenta até dar, o que se costuma dizer, o ar da sua graça, mas isso cansa...ainda mais. Continua a dar aos demais o que estes pedem dele e não lhes chega ou não lhes serve ou outro sem fim de variações, ou afinal, a máscara é já sua pele e não se habitua a si mesmo. Crise de adolescente em idade tardia? Ou a crise da falta de tempo e descanso para uma simples e completa saída para beber café durante a queima de um vício? Ou...
Se não fosse... Se... esse se que atormenta a língua do ser mortal e, no entanto, de que nos serve? Consolo? Auto-mutilação psicológica, com forte inclinação para a física, em casos não tão raros? Esse se, que de tanto dizem que poderia ter sido melhor, insisto que poderia ter sido catastrófico. Estendem-se em matérias que não existem, em comparações com a vida não vivida, que devido à sua característica mais determinante - o não ser passível de viver - as torna irrealizáveis. Mas, teima-se no se...
Cansaço... E com este, o final de mais uma tentativa de se estender na escrita de um texto a si aprazível...mais um...porém, decerto com o âmago sarado... mesmo que de passagem.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Lua

O lusco fusco surge
na mudança de sol a lua
e a cidade prepara-se
para receber mais uma noite.

Da varanda de onde a espero
vejo milhentas luzes iluminar
o alcatrão que entre casas se perde
sem alguém para o calcar.

Ao redor deste refúgio,
chaminés içam no ar
o fumo das comidas
que famílias esperam esfomeadas.

Pacatamente, em noite à parte,
ouvem-se os grilos, já despertos,
em constante sinfonia,
chamativa do amor.

Dando aval às horas
para, metódicas, passarem,
surge assim a lua
a deslumbrar-me lá do alto.

Magnífica lua,
em crescente apresentada!
Pérfida lua,
que tao nova mentes já!

Inspiração de artistas,
como podes tu ser?
Ora mentes ora foges,
ora magra ora gorda!

Muito encanto deves tu ter,
que eu que te rejeito
perco-me também
emaranhado em teu enleio.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Crianças

As crianças dançam loucas,
Extasiadas de juízo,
Numa festa de arromba,
A esse Deus Dionísio.

Cantam maravilhas vindouras,
Que seus pais já lhas diziam.
Espezinham as teias mundanas
Que vivem e se avizinham.

Sonham felizes, em regozijo,
Únicas no vale perdido.
Embriagam-se em orgias de vinho,
Que lhes olvida todo o medo.

Fulgor nas veias quentes,
Que tanto lhes dá alento.
Bebem vida dessa fonte,
Que só essa satisfaz a pronto.

Dry

Deslizas airosa,
bela no pequeno andar,
deixando fragância cheirosa
a quem se faz por atrasar.

Acalentas numerosas histórias
em sonhos meus, ardentes.
Ah, melancial fulgente,
que perdura na memória!

É culpa tua, talvez,
leito, tão em perfeito, definido,
que me faz esperar a vez,
por ser meu o corpo estendido.

Que este tom jocoso,
não se pense sem amor,
Que é de mui abuso
quem assim propor!

terça-feira, julho 17, 2007

Rótulo

Grita e revolta-se,
em gestos audazes,
em mil reviravoltas,
com palavras sagazes.

Ri-se louco,
em tamanha insânia,
às leis gerais mouco,
dando ao mundo sua ânsia.

Rotulam-no, crédulos,
de confiança perdida,
não só a seus apelos,
a outros também induzida.

Veste couro preto,
é visto sozinho.
Triste este aperto,
d'um ideal mesquinho.

quinta-feira, junho 21, 2007

Pesadelo

Tórridos pesadelos pálidos
de tristes fados entoados
por almas, em si, perdidas,
glamorosas, por dentro, chorosas.

Sabres perfeitamente rombos,
perfurantes de carnes, por ofício,
ei-los cruelmente desembainhados
para o orgásmico sacrifício.

E segue, infinita,
sem descanso, a parada.
"Vida prisioneira finita,
será aqui a despedida".

Jaz assim a voz,
num eco que se perpetua atroz.

segunda-feira, maio 14, 2007

Inspiração

Esperei por inspiração…
Esperei e desesperei,
e ela não veio…

Noite após noite,
vagueando ao vento e mirando a lua,
e ela não veio…

Horas e horas
defronte do fogo e da neve,
e ela não veio…

És, assim, tão necessária,
ser, imensamente, cantado e desejado?

Pois, então, eis-me, aqui e agora,
de lápis pronto
e folha esperançosa!

Gostas-te, assim?
Infrutífera, perante o que escrevo?
Enlouquece-te, perdida,
que se a ti não te tenho,
resto-me, ainda!

Ris-te, maldita!,
porque me sabes incapaz,
que, sem tua essência,
Arte não a há!